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Curtas da semana

por Cláudio Gomes, em 03.11.25

Um zero absoluto para André Ventura, Pedro Costa e André Ramos (CNN)

Receio que nunca mais volte a ser possível discutir política com seriedade, enquanto os intervenientes quiserem nivelar o debate ao nível do solo. Ontem aconteceu mais um episódio desses, com André Ventura a ser entrevistado, chamemos-lhe assim, por André Ramos, pivôt do canal, e por dois comentadores de serviço, Francisco Rodrigues dos Santos e Pedro Costa. A entrevista, ou melhor, o confronto, que nem deveria ter ocorrido, começou muito mal com uma nota introdutória feita pelo pivôt, bastante perniciosa, com acusações várias ao partido e ao seu líder, de viverem de fake news. Conseguiu incluir Salazar, corrupção e ciganos na mesma síntese e isso irritou o convidado desde o início do confronto.

Ventura está cansado e é notório que preferia não ter sido candidato, porque o seu objetivo é ser Primeiro-Ministro. Mas sabe, ao mesmo tempo, que tem culpa própria e sente-se incomodado com perguntas que desembocam nesse paradoxo em que está metido. Ontem, estiveram todos mal. O primeiro foi Ventura, que nem deveria lá ter ido. Foi, ainda conseguiu usar a sua narrativa, mais do que conhecida, mas sem a mesma eficácia de outros dias. Esteve mal o pivôt, que não é muito competente neste tipo de debates, parece sempre um sujeito desprovido de empatia e munido de um tom arrogante quando confrontado. Esteve mal o comentador Pedro Costa, que eu nem conhecia e fui investigar. O currículo do sujeito é ter sido presidente de junta de freguesia e ser filho do antigo Primeiro-Ministro António Costa. A frase final desse comentador foi no mínimo inoportuna e repugnante. “Porque berra tanto?”, mesmo que citando alguém, uma desculpa esfarrapada que só acredita quem quer. O sorriso traiçoeiro que esboça ao mesmo tempo que faz aquela pergunta, demonstrativo da sua linguagem corporal, exibe também o seu carácter e a ética.

O nível de debate está assim, na lama e quem perde é a sociedade civil, com políticos incendiários e populistas e um jornalismo terceiro-mundista, incapaz de manter a coerência e a isenção, nem que fosse por apenas uma hora. Um zero para todos e uma nota mental para mim. Não ouvir mais debates para as inúteis eleições Presidenciais e não voltar a sintonizar a CNN Portugal.

 

Outro zero absoluto para Miguel Prata Roque e Rodrigo Taxa

Dois dias antes este triste espetáculo já tinha acontecido, desta feita na Sic Notícias. Em estúdio, o comentador do PS, Miguel Prata Roque fala sem interrupções durante mais de quatro minutos e pelo meio insulta o partido Chega e o seu líder. Quando a palavra passa para o deputado Rodrigo Taxa, Miguel Prata Roque interrompe-o várias vezes. O deputado irrita-se e diz para Prata Roque se calar, porque não consegue dar a sua opinião nem o interrompeu durante a sua prestação. Prata Roque não gosta e reclama com a moderadora, ameaçando sair do estúdio, o que acaba por fazer. Estas lamentáveis demonstrações, que dantes só assistiamos em debates de futebol, transferiram-se para a política, o que é um indício do clima político que se  vive no país, no nível cada vez mais baixo de deputados e comentadores. Perde o espetador e é melhor mesmo usar a televisão apenas para transmitir para o ecrã o que estamos a ver no telemóvel, seja Netflix ou Youtube. 

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Se dos deputados do Chega não espero ética nem elevação, esperava outra atitude de Prata Roque, que se diz constitucionalista e até já foi membro de um governo. Ele é uma figura que se envolve com muita frequência neste tipo de discussão baixa, sendo constantemente vencido e até motivo de risota nas redes sociais, pela maneira como Miguel Morgado o domina e não só. Recentemente também foi enxuvalhado por Ascenso Simões, do mesmo partido, e mais lá atrás ficou célebre um "raspanete" que Sebastião Bugalho lhe deu em estúdio. Prata Roque é assim uma figura de prateleira do PS, partido que prefere sem dúvida vê-lo nas Tv's do que tê-lo nas suas fileiras, seja na fação de centro ou a fação de esquerda. Penso que naquele partido ninguém pensa nele para rigorosamente nada, já que Prata Roque não tem discurso próprio, nunca se afirmou como uma alternativa a corrente alguma no partido, não tem credibilidade nem autoridade e tem o carisma de um cabide. Veja-se a forma como foi ridicularizado pelos parceiros de comentário, no passado mês de Agosto, mostrando impreparação para o debate político. A atitude que teve na passada quinta-feira é demonstrativa de que só se sente confortável e protegido nos pelouros e corredores da academia, jamais no mundo cá fora, que não é para fofos. Lamentável também a atitude do mesmo nas suas redes sociais no rescaldo desta altercação, ao se sentir ofendido pelo opositor, discorreu uma série de postagens onde usou termos como "porcos" e "dar umas lambadas", em referência implícita a Rodrigo Taxa. Foi pior a emenda que o soneto. Um zero absoluto, numa semana negra para ele.

 

Outro zero absoluto para Cláudio Castro

Que o Brasil tem problemas crónicos de segurança e que o narcotráfico é cada vez mais poderoso e violento, isso todos sabemos. O crime organizado tem de ser combatido com método, precisão e fazer o mínimo de vítimas civis. Tal não aconteceu esta semana e existem imagens chocantes de dezenas de corpos ordenados no chão, como se fossem animais abatidos ou de uma guerra civil em África. Ninguém tem dúvidas de que houve abuso de autoridade e uma violação grave dos direitos civis, mas ouvir um sujeito que é governador do estado do Rio de Janeiro, dizer que "só lamentava a morte de quatro inocentes", referindo-se aos polícias mortos naquele combate, é revelador do desprezo que algumas elites brasileiras continuam a ter face a quem nasceu naqueles lugares e que dificilmente terá condições de ser outra coisa na vida que não pedinte ou criminoso. Será que alguém lhe perguntou o que é que as autoridades estaduais e nacionais têm feito para combater a pobreza e a desigualdade naqueles lugares? E que resposta acham que ele teria para dar?

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Quando deixaremos de ler notícias destas?

E porquê que nunca se vem a saber o que acontece a agressores destes? Não chega à polícia? Não chega nenhuma queixa ao Ministério Público, caso os médicos e enfermeiros tenham medo de denunciar? Porque é que neste país continua a imperar o medo e a lei não atua?

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Será o dedo de Mourinho ou o dedo de outra coisa?

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O campeonato português tem sido até ao momento bem disputado e sem grandes polémicas, mas para quem conhece bem isto, o sistema de castas existente, a pressão dos predadores sobre as presas, sabe que esse estado de graça é sempre sol de pouca dura.

Anteontem fomos brindados com essa forma de futebol. Ainda com 0-0 no marcador, em cima do intervalo, ocorre uma falta grosseira e negligente do jogador Sudakov sobre o jogador Samu. Decisão? Um simples amarelo. E nem o VAR piou. No início da segunda parte há outro lance decisivo, com contornos semelhantes. Já com 0-1 no marcador para os encarnados, o árbitro não foi lesto e expulsou o jogador Blanco, do Vitória, com vermelho direto, deixando assim a equipa vimaranense duplamente penalizada. Sendo que este tipo de lance (uma expulsão) é ainda mais impactante numa partida do que uma grande penalidade, merece uma análise cuidada. Mas, novamente o VAR não existiu. Como dizia um antigo árbitro “O VAR, Rui Costa, uma vez mais, ficou-se nas covas.” A pergunta é sempre a mesma, e é válida ara os outros dois grandes, mesmo que com pequenas nuances - se fosse ao contrário isto acontecia? Se as camisolas estivessem invertidas a decisão era a mesma? É óbvio que não. O futebol português continua a ser isto, infelizmente.

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publicado às 14:11

O fim dos media "conceituados"

por Cláudio Gomes, em 28.10.25

O crime selvático que está a chocar o Reino Unido desde ontem é apenas mais um caso que divide os media na forma como é tratado e compete ao leitor saber fazer essa triagem quando procura saber realmente o que se passou na sua comunidade. 

O crime de ontem foi assim reportado pelo Daily Mail, ligado às classes populares e o jornal nacional mais vendido do Reino Unido:

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Observações: É apontada a hora do crime, o nome da pessoa que morreu, inclusive a sua fotografia. Do criminoso, apesar de não ser noticiado o nome, é possível saber a sua idade, a sua nacionalidade e um pequeno desenrolar dos acontecimentos. E tudo isto no título e subtítulo da notícia, útil para aqueles leitores com pressa. Existe até um vídeo em que se vê a polícia a deter o criminoso. 

Eis agora como o mesmo crime é noticiado pelo The Guardian, bastião da media mais à esquerda daquele país, jornal citado por académicos, políticos e bastante conceituado entre as elites, apesar de vender pouco:

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Observações: Nenhuma objetividade e tentativa de manipular o leitor, que começa no próprio título da notícia. Numa tradução mais ou menos literal, diz que "Homem detido depois de passeador de cão morrer e mais dois feridos em esfaqueamento em Londres". Para quem apanha a notícia de relance, fica a pensar que o homem morreu do nada e que o esfaqueamento só envolveu os outros dois feridos. Em lugar nenhum da notícia se consegue saber pormenores importantes acerca do criminoso - o nome, a nacionalidade, alguma motivação, etc - mesmo que alguns destes detalhes já estetivessem a ser noticiados em vários outros media. No antigo Twitter já era possível até ver o selvático ataque que tirou a vida a um inglês de 49 anos que passeava o cão, esfaqueado dezenas de vezes pelo criminoso. Só à segunda leitura, provavelmente depois de editada a notícia, é que aparece lá no fundo, a nacionalidade do criminoso. 

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notícia publicada na BBC

O The Guardian , tal como outros media conceituados entre os círculos daquilo que ainda se entende por poder, como a BBC, são o espelho da media cobarde e manipuladora, que sem ter nada a ganhar com tal atitude, perde a confiança dos leitores, perde a confiança das comunidades, perde a confiança das classes populares, que são os grupos mais expostos a este tipo de crimes, porque as elites não moram naqueles bairros.

Ninguém pode confiar numa imprensa que perdeu toda a objetividade que o leitor procura, que tenta manipular a opinião, começando pelo título, continuando pelo corpo da notícia, com inúteis subtilezas verbais, com uma total ausência de clareza e repleta de "chouriços" e outras inutilidades de estilo para encher a página. Qual a intenção? Serem fieis guardiões daquela atitude chamada de "politicamente correcto"? Nem com um crime tão bárbaro e gráfico, que foi inclusive filmado - e por esse facto, pouco susceptível a ambiguidades - foi possível estes media deixarem as supostas ofensas, preconceitos e generalizações, (que é como o chatGPT define esse estranho conceito sociológico) de lado? 

Os resultados estão aí, com esta media das elites cada vez mais alheada das comunidades, insensível e destituida de empatia face às suas inquietações, barulhenta apenas quando é para pedir subsídios, isenções e intrusiva nos pedidos de subscrições pagas aos leitores que lhes restam, quando ao mesmo tempo, mantém-se ora silenciosa, ora sonsa, ambígua e manipuladora, aquando de eventos trágicos como o de ontem. A manterem o tom, receio que o futuro destes outrora importantes órgãos de comunicação social, já esteja traçado.

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publicado às 23:18

Curtas da semana

por Cláudio Gomes, em 28.10.25

Vergonha alheia #1

Se o primeiro cartaz publicado nesta nova série, que visa os ciganos, apesar do mau gosto, tem pertinência e essa pertinência é exposta frequentemente por alguns poucos meios de comunicação corajosos que sabemos bem quais são, este cartaz é vergonhoso a todos os níveis. Atenta contra a nossa tradição de receber bem, é falso porque a maior parte dos cidadãos desse país trabalham e não me parece que criem problemas com os cidadãos locais e atenta à diáspora portuguesa por esse mundo fora. Imaginemos que em dois países com enormes comunidades portuguesas como o Luxemburgo, a França ou mesmo o Canadá, da noite para o dia, surgissem cartazes destes a dizer "Isto não é Portugal". Como se sentiriam os nossos compatriotas? Não vou discutir os diferentes graus de integração das comunidades emigrantes em qualquer país e sei perfeitamente que os emigrantes não podem ser metidos no mesmo saco simplesmente porque são todos tecnicamente emigrantes. Todos sabemos que o grau de integração de um angolano, cabo verdiano ou brasileiro é incomparavelmente mais eleado que o de um indiano ou paquistanês, mas um cartaz destes e indesculpável. Envergonha-me imenso. Ventura radicalizou-se ainda mais nestes dias porque o enxovalho nas autárquicas ainda causa mossa. De lá para cá já veio com a lei das burkas, há dias referiu que o país precisava de três Salazares, agora veio com estes cartazes. Vale tudo para continuar a ser relevante.

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Vergonha alheia #2

Nada como ter o pagador de impostos português como credor de todos os erros estratégicos e desvarios económicos deste sorvedouro de dinheiros públicos. Ponto prévio: Eu não defendo que uma empresa pública deva dar lucros mas também não pode nem deve ser esta caricatura. Esta notícia é apenas o último prego no cadáver de uma companhia sem solução num mercado concorrencial feroz. Ora, se a TAP desiste de contestar este pagamento, qual o passivo que podemos esperar ali próximo trimestre? E no final do ano? Quanto valerá essa companhia, fonte maior de ruido e mal estar em toda a grande Lisboa, no final do ano? O que penso estar por detrás de tudo isto? Tornar a companhia ainda menos atrativa para algum comprador, ao ponto de todos os interessados desistirem e este cancro continuar a pesar nas contas públicas ad eternum, enquanto a sua elite de administradores, pilotos e tripulantes se pavoneiam em destinos de luxo para onde a companhia voa nesta altura. Dos 3.2 mil milhões enfiados a fundo perdido, num país onde mais de 7 milhões de portugueses não viajam, que benefício tivemos? Nem um desconto de dez euros para uma viagem doméstica às ilhas, ao Porto ou ao Algarve.

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Democracia ou Marketing?

Mais do que um assomo de democracia, as eleições do Benfica parecem ter sido sim um grande número de marketing. O plesbicito deverá ter custado entre 4 e 5 milhões de euros e a segunda volta, mesmo podendo ter menor participação deverá custar o mesmo, porque há que pagar a todas as pessoas que estiverem nas mesas, para além de toda a logística à volta da eleição. Os custos estimados serão entre 8 a 10 milhões de euros. Esta operação serviu para noticiar um suposto recorde mundial de participação e não tardaram a surgir comparações bizarras com os números das eleições do Barcelona e também em relação às eleições dos dois históricos rivais. Não interessou mencionar que este “associativismo” é algo muito português, sem expressão noutros países em que os clubes são muito maiores e têm muitos mais massa adepta. O FC Barcelona tem apenas 6 mesas de voto. No Porto e no Sporting vota-se apenas no estádio, o que impossibilita grande parte da massa associada a votar. Se eles poderiam mudar isso e democratizar os locais onde se vota? Sim, mas com que custos? Alguns dos lugares fora de Portugal onde se votou para as eleições do Benfica, receberam menos de 30 votos. São Paulo teve 27 votantes, Praia em Cabo Verde teve 12 votantes, Montréal teve 18 votos, San José, na Califórnia teve 9 votantes. Cobre os custos? Jamais. É uma boa iniciativa de marketing? Sem dúvida.

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A decadência de França

O governo francês voltou a ceder aos socialistas para que o enésimo Primeiro-Ministro lançado por Macron se aguentasse. A idade da reforma não irá ser aumentada, não haverá cortes em salários e pensões e assim a dívida monstruosa deste país continuará a crescer par além dos 115% do PIB. Noutros países, por menos que essa % foi preciso pedir assistência externa e aplicar austeridade em grandes doses, mas isso em França só irá acontecer quando não restar mais dinheiro. Nesse dia a austeridade será à bruta. Para já aplica-se uns paliativos que vão funcionar apenas no curto prazo. “É ir buscar aos ricos”, como dizem as nossas esquerdas, o que não é errado, mas e se os ricos se fartarem de França? Naquele país ainda ninguém percebeu que a França já não é o que era, começa até a ser evitada por grandes empresas, a indústria vai definhando, o crescimento económico é anémico e mesmo os imigrantes, só mesmo os dos países mais miseráveis é que a procuram, os outros menos miseráveis, arriscam-se no Canal de Mancha para sair dali. E no entretanto, o povo diverte-se com a incompetência das polícias no caso do roubo das jóias do Louvre, em que ao fim de uma semana ainda ninguém tinha sido detido, e enquanto dez pessoas são julgadas por fazerem cyberbulling à primeira-dama de França, acusando-a de ter nascido homem. Assim vai, o país mais decadente da Europa.

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Será o fim dos hoteis para requerentes de asilo no Reino Unido?

Foi noticiado que o governo trabalhista britânico vai acabar com os chamados migrant hotels, depois de um relatório ter vindo a público mostrar que esta “solução rápida” já tinha custado aos contribuintes britânicos cerca de 15 mil milhões de libras (16.5 mil milhões de euros, nos últimos anos. É fácil perceber o desagrado geral, estas pessoas estão em situação ilegal, não trabalham nem contribuem para o país, para além da maioria deles serem homens jovens em idade militar, causando desagrado nas comunidades locais por onde estão alojados. Os custos acima referidos são apenas para o alojamento, não incluem a alimentação, gastos medicos, etc. Neste momento o país abriga mais de 100 mil requerentes de asilo e cerca de um terço deles estão alojados em hoteis. Estes contratos são apenas bons para os grupos hoteleiros e mais ninguém. Recentemente ganhou amplitude mediática o caso do hotel de Epping, que no rescaldo de uma agressão sexual provocada por um migrante etíope que lá estava instalado a uma adolescente local, causou imensos protestos locais. Os moradores levaram o caso a tribunal, alegando que o alojamento não estava a servir para a função a que estava licenciado. Venceram. Agora o governo tem 30 dias para desocupar o hotel e realojar os requerentes noutros lugares. Há agora o receio de que os outros mais de 200 hotéis usados para este fim possam terminar nos tribunais pela mão das comunidades de moradores e o governo ter de arranjar outra solução para estas pessoas. É o que acontece quando se governa ignorando os problemas e a vontade das comunidades locais. Prevendo esse desfecho, hoje foi falado em alojar estes requerentes em tendas militares e barracas. As sondagens nunca foram tão baixas para Keir Starmer, que sabe ser este o maior problema social do país e o seu governo trabalhista tem acusado os governos conservadores anteriores de terem agravado este problema. Defende que nunca como agora o país está a agilizar com maior rapidez os pedidos de permanência e expulsão do país. A dicotomia entre esquerda e direita parece cada vez mais esbatida ou então já não faz sentido nos dias de hoje.

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Rússia vs. Ucrânia

Muitos minions pró-russos que povoam as redes sociais e alguns paineis de comentadores continuam a dizer que a Rússia não quer mais terras e que o que está a fazer é acabar com o exército ucraniano e que em última instância querem o seu desaparecimento total para a Polónia, Roménia e Rússia, como se isso fizesse grande sentido no caso dos dois primeiros países mencionados. Não sei como a guerra terminará mas não me espantaria que mais depressa a Rússia acabasse este episódio mais dividida do que nunca. Provavelmente espalhada em "istões", à semelhança daquelas repúblicas da Ásia Central. Seria aliciante ver emergir um enorme Siberistão de povos asiáticos que pouco se identificam com moscovitas. Ou o surgimento de um Irkustistão, de um Rostovistão, um Vladimiristão, um Tomskistão, um Sakhalinistão e por aí fora. A sorte da ditadura russa parece ser mesmo conhecer o seu povo como mais ninguém, a sua característica apatia, o anestesiamento geral e uma resignação comum em países no ocaso demográfico e que há mais de cem anos que não se revolta a sério. Talvez fosse o melhor que poderia acontecer a um país sem futuro, e que por esse motivo, os jovens arriscam a vida na linha da frente e troco de uns tostões. Era um bom assunto para ser discutido entre Trump e os seus homólogos da orla russa, visto que os russos são ótimos nas provocações, seria uma bela resposta à sua arrogância e desprezo pela independência de outros países.

Mosquitos na Islândia

É verdade que as alterações climáticas estão aí e são sentidas por todos. Nunca ninguém imaginou ver mosquitos na setentrional Islândia, mas até lá eles já chegaram e aquele novo sangue escandinavo será um banquete para os instetos. Outros culpados? O raio da globalização, dizem os cientistas. A partir de agora só mesmo a Antártida está livre deles. Veremos até quando.

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publicado às 10:12

Free Palestine e a economia da atenção

por Cláudio Gomes, em 16.09.25

Vivemos tempos conturbados em que cada vez mais necessitamos de ganhar a atenção dos outros, não importa porque meios. Tal fenómeno agudizou-se com o aparecimento do Youtube e mais tarde a massificação das redes sociais. Surgiram os conceitos popularizados pelo YouTube há duas décadas atrás, com o lema "broadcast yourself", que começou a promover qualquer anónimo capaz de se destacar em alguma coisa, a criar ou a manipular as plateias. Com o desenvolvimento dos smartphones, entrou-se numa nova dimensão, com a popularização dos "lives" nas redes sociais. A internet nunca mais foi a mesma e assim tanto os habiliosos e criativos como os narcisistas e os tiranos sairam das suas tocas e entraram na nossa vida através deste método. E quando não entravam diretamente entravam de forma indireta, através das partilhas de terceiros nas redes sociais. Tornou-se difícil ignorar os assuntos virais e certas personagens que emergiram dessa maneira. Neste contexto para quem é moderado tornou-se muito difícil manter-se à prova de manipulação e não foram os polígrafos que alguns meios de comunicação tradicionais criaram já na ressaca deste novo tempo, que o cenário mudou.

A nossa atenção começou a ser disputada por todo o tipo de "Influencer" e sabendo eles que a nossa atenção é por natureza limitada, videos cada vez mais curtos e por vezes a velocidade de x1.5 passaram a ser os mais populares. As explicações longas são entediantes, sobretudo para a geração -30, então encurtam-se os vídeos,  o contexto histórico é confuso e inassimilável, então passaram a ser ignorados, com a conivência tácita de grande parte da população que continua a carecer de problemas de compreensão de textos minimamente complexos. Segundo notícia do Jornal de Negócios de 10/12/2024  Em Portugal 40% dos adultos só compreendem textos simples e matemática básica, citando estudo da OCDE. Assim a atenção é direcionada para aquilo que se compreende ou então para a percepção daquilo que se compreende - futebol, crimes de rua, big brother, novelas, concursos e pouco mais. Ainda são os conteúdos mais populares da televisão, para bem mais que aqueles 40% de adultos e percebe-se porquê.

É neste contexto que surgem novas figuras populares em todos os segmentos. Surgem comediantes da noite para o dia, tal como surgem cozinheiros, construtores, atletas, músicos, estrelas da moda e surgem também opinion makers e políticos, que sem estes recursos tecnológicos e sem um aproveitamento máximo da economia da atenção, seja ela positiva ou negativa, jamais conseguiriam ascender a esse estatuto.

O leitor dirá a esta altura, que o título desta postagem não faz muito sentido com o que foi dito até aqui. Está enganado. A limitada atenção do público também é extrapolável para os acontecimentos globais e é aqui que entra a Palestina e um necessário ponto prévio. Acredito que Israel está a cometer um genocídio indesculpável em Gaza e merecia sanções mais severas pelos crimes que está a cometer. 

Segundo dados da Universidade de Upsalla, neste momento existem 61 confilitos ativos que envolvem pelo menos um estado, dos quais 11 estão em nível de guerra, no entanto praticamente só se falam de dois conflitos, o que envolve a Ucrânia e a Rússia e o que envolve Israel e a Palestina. Os outros 9 conflitos não interessam nesta economia da atenção e não importa que sejam bem mais devastadores. As guerras não são apenas batalhas, bombas e baixas, são também as populações refugiadas, as fomes, etc. Neste cenário, só o Sudão tem neste momento mais de oito milhões de refugiados e pessoas famintas desde que deflagrou uma lamentável guerra civil com contornos económicos que envolvem a exploração recursos naturais do país e também contornos racistas entre algumas etnias desse país. Por mais que faça zapping em todos os canais, raramente surge uma notícia sobre os desenvolvimentos desta guerra. Não interessa para a economia da atenção, logo não interessa a nenhum dos autoproclamados ativistas que surgem sempre colados a certas causas. No Afeganistão ocorre o mesmo, com pelo menos 6 milhões de refugiados, que certamente estarão melhor fora daquele país do que os restantes trinta e cinco milhões que sofrem com um regime talibã, usurpador de direitos civis e de género, sendo o "inferno na terra" para as mulheres. Notícias, desenvolvimentos, correspondentes? Nada nem ninguém. Atenção por parte dos autoproclamados ativistas? Nenhuma, é como se o país não existisse. Venezuela vem em seguida com cerca de cinco a sete milhões de refugiados, conforme as fontes, muitos deles aqui em Portugal. Atenção mediática, pouca mas alguma, agora que uma fragata militar americana está em águas internacionais e pronta a deter barcos de traficantes de droga. Só por isso a atenção não é nula. Sudão do Sul, cerca de 2.3 milhões, Rohingias, mais de 2 milhões, atenção idem zero, etc.

E então chegamos a Gaza e a Israel. Perante este contexto global como conseguimos compreender a excessiva atenção mediática deste conflito face aos outros? É a economia da atenção negativa a funcionar. Suponhamos que Gaza e o restante território palestiniano era um território de históricos direitos e liberdades civis. Suponhamos que Gaza tinha sido um exemplo mundial das causas que alimentam os ativistas das flotilhas, como os direitos LGBT, a igualdade social, os direitos das mulheres, a tolerância religiosa ou mesmo que tivesse sido um bastião do secularismo, do fim das classes sociais e da defesa das minorias. Compreenderiamos facilmente esta colagem a essa causa em detrimento das outras. Mas a realidade é que o território palestino e a sociedade de Gaza representam exatamente o oposto desses valores e quem não acredita nisso pode muito bem consultar as notícias de Gaza, pré 7 de Outubro de 2023, fossem elas sobre política, sociedade ou direitos.

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Sendo assim a economia da atenção, ainda que negativa, volta a funcionar. Atrás desta colagem a uma causa nobre, parece existir primeiro a causa da atenção mediática, seja pela necessidade de marcar uma agenda ou pela mera sobrevivência política de alguns. É nesta condição que parece estar a deputada única do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua e alguns amigos que se associaram a esta frota. Eles já acusaram que quem os criticam são os tais treinadores de bancada que nada fazem por causa nenhuma, o que, não sendo um argumento errado, não é difícil rebater tal acusação. Bastava questioná-los com o seguinte: Se a direção destas embarcações fosse em direção ao Mar Vermelho por forma atracarem no Sudão e oferecerem essa mesma ajuda humanitária, estariam eles assim tão motivados? Ou se a frota seguisse em direção a Myanmar para  oferecerem ajuda humanitária ao povo Rohingia, eles se associariam? A resposta é evidente. Nunca iriam, porque são causas sem atenção. E eles vivem da atenção, tal como a ativista profissional Greta Thunberg, que não consta alguma vez ter organizado nenhuma intervenção pelas mulheres do Irão, pelos direitos do povo venezuelano, pelo povo curdo, Yazidi ou pelo genocídio cultural dos povos originários do Tibete ou de Xinjiang, face à China. Dá a sensação de que quando o agressor não parece ser do gosto deles a causa deixa de existir ou é ignorada. Suponho que não dá gostos nem atenção mediática enfrentar a China, o regime dos Ayatolas do Irão ou o dos talibãs do Afeganistão. Eles devem ser demasiado perigosos e ali não há atenção mediática, ou seja, não há dividendos, nada a ganhar, ao contrário de onde andam os judeus e os americanos, uma causa de atenção negativa que lhes parece continuar a dar tudo.

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Neste fim-de-semama a etapa final da Vuelta à Espanha em bicicleta, cartaz maior do desporto europeu e da promoção do país, foi mais uma vez interrompida por protestos com as bandeiras da Palestina. A etapa nem se concluiu e não houve a consagração para o ciclista Jonas Vingegaard, nem pódio para o "nosso" João Almeida. Os troféus iriam ser atribuidos pelo princípe Alberto do Mónaco porque no próximo ano a Vuelta começa no Mónaco. Sem nenhum respeito institucional, o primeiro-ministro espanhol não se desculpou pelo incidente ao seu homólogo monegasco, nem os organizadores da prova e não se coibiu de elogiar este vandalismo, totalmente gratuito e vulgar, para além de ocorrer num dos países mais anti-Israel e pró-Hamas da Europa. Porque fez isso Pedro Sanchéz? Pelos mesmos motivos de outros ativistas, a sobrevivência política, sabendo que a polarização ajuda a fortalecer posições e esta causa tem sempre atenção mediática que outras causas jamais terão.

É assim que parece funcionar a economia das causas e a economia da atenção negativa.

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publicado às 13:36

A miopia das propostas para Lisboa (e Porto)

por Cláudio Gomes, em 12.09.25

Alexandra Leitão, candidata do PS e de uma coligação de pequenos partidos, à câmara de Lisboa, voltou a usar o lisboa-centrismo na sua retórica. Esta lamentável narrativa não é inédita, não comecçou com ela nem irá acabar com ela, mas ela poderia falar e propor diferente.

Sabemos todos que Lisboa apenas funciona com  o contributo de pessoas vindas de fora dos seus limites concelhios. De fora, falamos tanto dos concelhos limítrofes, como de concelhos  mais afastados e um pouco de todo o país. Não tem muitos anos que numa empresa onde eu trabalhei, na área do Sete Rios, um colega ia e vinha de expresso todos os dias, de Óbidos, para ali trabalhar. Em qualquer empresa onde trabalhei, os "lisboetas" vinham quase todos da linha de Sintra, da margem Sul e até do Ribatejo, fora um ou outro de norte e do Alentejo e muitos estrangeiros. Os "lisboetas" hoje em dia são estes e não apenas os que residem no concelho de Lisboa.

Nos últimos dias Leitão veio propôr "passe municipal gratuito para todos". Mas quem são estes todos? São os residentes em Lisboa. Há alguns anos atrás outro presidente da Câmara também propôs a gratuitidade das entradas no castelo de S. Jorge para os lisboetas. Quem eram estes lisboetas? Apenas os residentes no pequeno concelho de Lisboa. Nem sequer abrangia quem em Lisboa nasceu, como eu e tantas outras pessoas, mas que tiveram de ir morar para algum um concelho limítrofe. A nós, são-nos exigidos uns perversos 15 euros, para ver as vistas desse monumento "de interesse nacional e interesse público".

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Infelizmente este tipo de narrativa é comum em muitos candidatos às eleições de Lisboa, que não estando completamente errados, não fazem esforço algum para assimilar que Lisboa (e isto também é abrangível ao Porto), não se restringem aos seus limites geográficos concelhios, mas sim à sinergia de toda uma área metropolitana e não só, que as fazem ser o que são hoje em dia, em termos de concentração económica e atração a vários níveis. Não tem muito tempo esta candidata propôs residências universitárias para os jovens lisboetas, ignorando que a nível de universidades o problema do alojamento é grave apenas para os alunos que vêm de fora da cidade, de outras regiões do país, e não dos estudantes de Lisboa que podem ir dormir a casa, em Belém, a Campolide, a Telheiras ou a Benfica. Para quem se licenciou em Direito, ela sabe perfeitamente de onde eram originários a maioria dos seus colegas de universidade e as dificuldades que tiveram para obter alojamento em Lisboa, mas preferiu ignorar. Recentemente a candidata também propôs uma rede de creches públicas para famílias portuguesas residentes em Lisboa.  Tal não seria uma medida míope se as pessoas excluídas em questão não tivessem ligação alguma à cidade, mas sendo assim exclui todo os bebés e as crianças dos milhares de portugueses que todos os dias entram em Lisboa para trabalhar e fazer a cidade funcionar. Exclui assim todos os filhos dos funcionários de Lisboa, que vão dos profissionais de saúde, do ensino, da hotelaria, da indústria, da administração pública e privada, impossibilitados de usar esse serviço público, têm assim de dar mais umas voltas extra de manhã e ao fim do dia para deixarem os seus filhos, em subúrbios cuja ligação com eles é pouco mais do que a do prédio onde dormem. E exclui também as trabalhadoras da limpeza, quase todas de origem africana, que são as primeiras a entrarem nos autocarros às cinco da manhã para fazerem a limpeza de escritórios e universidades e que têm de deixar os seus filhos em creches improvisadas na Amadora, no Cacém ou em Odivelas.

Um princípio que deveria vigorar em Lisboa deveria ser este "Se trabalhas em Lisboa os teus filhos deveriam usufruir desses serviços em Lisboa, se assim o desejasses" e não nas Mercês, em Massamá ou no Fogueteiro. Políticas a favor das famílias visariam este princípio, que abrangessem todos e não o contrário, esta contínua exclusão de indivíduos e famílias, simplesmente porque moram a dez ou quinze quilómetros da cidade onde fazem vida, prevalecendo assim a ideia de que estes cidadão só servem a Lisboa para trabalhar e gastar o seu dinheiro ali, mas sem direito a nenhum benefício público familiar para os seus filhos ou sequer um passe gratuito, o mínimo que se justificaria para quem tanto dá à cidade. Compreendo que este problema ultrapasse as competências autárquicas, mas todos os candidatos deveriam pensar nisto quando se arrogam do direito de falar dos "lisboetas".

Lisboa não é caso único. Como estes dias estive em trabalho na Invicta, constatei que o candidato do PS também propõe algo do género, neste caso transportes públicos gratuitos para todos os maiores de 65 anos. E quem são estes portuenses? Os do concelho do Porto, que tem 41 kms2 e uns risíveis 231800 habitantes (Censos 2021), quando a sua área metropolitana é extensa e ali residem quase 1.8 milhões habitantes, sendo que estes são a maioria dos que utilizam o metro do Porto e os autocarros STCP. Uma medida destas, proposta pelo candidato do PS, Manuel Pizarro, exclui todos os idosos que precisam de ir ao Porto pelos mais diversos motivos e que na verdade são a sua verdadeira alma, morem eles hoje em dia em Gondomar, Matosinhos, Gaia, Espinho, Maia, Valongo ou Vila do Conde.

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A todos os candidatos à câmara de Lisboa (e Porto), usem o bom senso  quando propuserem medidas para os "lisboetas" ou para os "portuenses". Não excluam os antigos residentes, não façam se sentir excluídos todos os que lá nasceram e tiveram de comprar casa a muitos quilómetros de distância porque era a única opção de ter um tecto acessível, mas que ainda é ali na cidade que fazem a sua vida, que gastam o seu dinheiro.  Dinheiro esse que reverte para os números da economia do concelho-capital. Lisboa não tem apenas 84 km2 e não tem apenas meio milhão de habitantes. Sabemos que será dessa minoria de eleitores que irão eleger os órgão autárquicos, mas restringir as propostas apenas a estes cidadãos, para além de injusto e desfasado da realidade interurbana, é ver Lisboa e Porto com miopia, é pensar muito pequeno, é ver Lisboa e Porto como um pequenos castelos, protegidos por muralhas que excluem todas as quintas limítrofes, que na verdade são de onde vem todo o seu sustento, humano e material.

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publicado às 15:26

A cabeça de Moedas

por Cláudio Gomes, em 10.09.25

Cumpriram-se os mínimos de decência após o trágico acidente do Elevador da Glória. Dezasseis pessoas morreram, dezenas ficaram feridas, famílias traumatizadas e um pequeno abalo para a imagem turística do país.

Durante os primeiros dias assistimos a uma crítica contida, tanto à empresa que faz a manutenção àqueles transportes, como à Câmara Municipal. No entretanto vários partidos suspenderam as ações de campanha, com a excepçâo do PCP, que manteve a Festa do Avante (o que não surpreende ninguém), mas passados cinco dias da tragédia, passado o fim de semana, ótimo para afiar as facas, preparar estratégias e discursos, começaram as hostilidades.

O Chega, que não tem uma ideia para o país, pediu logo a responsabilidade a Moedas, a extrema-esquerda aliou-se no pedido ainda que com um discurso mais dissimulado, como é frequente naqueles lados, o PCP que também não tem uma ideia adaptável ao Século XXI aproveitou a tragédia para pedir uma reflexão sobre manter este tipo de serviço de manutenção numa empresa externa. Para eles o melhor seria manter esse serviço na empresa pública, como se isso fosse uma garantia de que mais nenhum acidente ocorresse por essa via. Já por parte do PS, e de Alexandra Leitão, candidata à câmara por esse partido, ainda mais dissimulação e taticismo nas críticas à Câmara de Lisboa. Deixou as facas afiadas para os seus "sicários", como bem referiu Carlos Moedas, em entrevista à SIC anteontem. Pedro Nuno Santos e Eurico Brilhante Dias fizeram esse papel, baixo e pouco digno, ainda que não seja nada de inédito na política portuguesa.

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Eu, anónimo cidadão que nada percebe de engenharia, não consigo assimilar como é que um presidente de câmara pode ser responsabilizado por um acidente deste género. Sei bem que Moedas é engenheiro, mas não está lá para verificar a base dos funiculares, nem escrever relatórios nem propor modernização àquele serviço. O único aspecto em que a câmara pode ser responsabilizada é no caso de ter sido responsável por algum desinvestimento na área manutenção e fiscalização destes meios de transporte público. Esperemos pelos relatórios.

São momentos como estes surge sempre uma espécie de moralismo justicialista, normalmente por parte dos treinadores de bancada, neste caso, o batlahão de comentadores das televisões, redes sociais e jornais. "É preciso responsabilizar x", "é preciso que y se demita", "ninguém vai preso?". Lê-se disto em todo o lado e falando em "ir preso", há uma expressão muito em voga nos EUA que, em desastres como estes, reza o seguinte "Alguém tem de ir preso", seja muito responsável ou pouco responsável.

Na Europa e em Portugal sabemos que  a funciona exatamente ao contrário - ninguém vai preso. Primeiro ocorre uma certa comoção e choque, logo depois começam as acusações, mais tarde aparecem relatórios, uma queixa do MP para apuramento de responsabilidade. Num caso mais extremo estes casos até chegam a tribunal, mas o mais comum é que terminem sem condenações. Ou faltam provas, ou não se provou que entidade x era mais responsável que a entidade y, e não menos frequente são os casos prescreverem. Quando isso ocorre, muitas vezes os suspeitos ou acusados já foram à sua vidinha, já abandonaram a política, porque se fartaram de ver os seus nomes no lodo, condenados pela imprensa, pelos inquisidores das redes sociais e dos painéis de comentadores, então vão para o mundo empresarial, que não cheira tão mal e enriquecem. Não menos vezes acabam por sair do país, desgastados e desiludidos com o sistema judicial e político do mesmo.

E no ponto da desresponsabilização, e do lema lusitano de que "ninguém vai preso", o histórico abona a favor de Moedas. Somos o tal país de brandos costumes, como dizia o ditador de Santa Comba Dão, que nos conhecia melhor do que nós próprios, e esse traço de personalidade do povo mantém-se praticamente inalterado, em pleno século XXI. Alguns ainda se lembram de que os terrorristas das FP-25 foram amnistiados por um presidente da república. Em 2002, e após a morte de 59 pessoas na ponte Hintze Ribeiro, em Entre-Os-Rios, Jorge Coelho apenas se demitiu e foi à sua vidinha para ficar milionário na Mota Engil. Porque é que agora Moedas teria de se demitir? Em 2017, morreram quase 120 pessoas nos vários incêndios que devastaram o país. António Costa demitiu-se?  O diretor do Siresp foi preso? A Min. da Adm. Interna foi presa? Apenas se demitiu e foi à sua vida. Quem manda na proteção civil foi preso? Os presidentes de câmara foram condenados a alguma coisa? Deixemo-nos desta espécie de puritanismo moralista, que na verdade nunca existiu em Portugal. Seria fácil enumerar um sem fim de casos, com mortes físicas ou com mortes em sentido figurado, como as das milhares de famílias "mortas" pelos crimes de que foram vítimas por parte de banqueiros ou políticos de alto gabarito e que nunca irão reaver as suas poupanças e investimentos, mas já nem vale a pena porque basta ouvir o tom com que esses prevaricadores e a forma como pavoneiam nas tv's, que percebemos a decadência contínua e irrevogável deste país. Por fim, se existisse esse moralismo justicialista como existe nos EUA, fruto dessa mesma tradição puritana, muitos dos que agora pedem a cabeça de Moedas, seriam os primeiros a "tremer das pernas", como dizia aquele antigo candidato do PS que foi líder do partido uns meses, e iriam logo para as ruas protestar contra o mesmo. Temos o que merecemos, temos o que somos enquanto povo.

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publicado às 12:54

E quando não sobrarem mais heróis?

por Cláudio Gomes, em 07.08.25

Que a vida é um sopro já todos sabemos, que a velocidade com que se criam heróis e os esquecemos, também é cada vez mais rápida e são cada vez menos aqueles que permanecem, aqueles que ficam para sempre, ligados a uma ideia de herói local, regional, nacional e mundial. Jorge Costa foi todos eles numa pessoa só.

Passamos todos os verões a assistir ao frenesim do mercado de transferências, às possíveis entradas e saídas de jogadores nos clubes, acompanhando ao segundo o que Fabrizio Romano avança.

Saem cada vez mais jovens dos clubes que os formaram, não chegam a deixar memórias nem saudade e não deixam sequer ao imaginário dos adeptos a ideia de poderem ser aqueles heróis de uma só camisola, os tais "one-club man", prémio cada vez mais precioso hoje em dia. Veja-se o caso de João Neves, que saiu aos 19 anos, ouça-se os rumores em torno de Rodrigo Mora, que pode sair aos 18. Nunca serão heróis dos seus clubes de fromação porque não tiveram tempo e as lendas precisam de tempo e paciência para se afirmarem e deixarem essa admiração e saudade. Jorge Costa foi um desses últimos exemplares de um jogador que encarnou na perfeição o imaginário das crianças, jovens e adultos que vibraram com as conquistas do clube, de todos os seus mosqueteiros e desse tempo que não volta mais, onde se degladiava com os adversários dos clubes rivais, com tamanho empenho e raça, que até a esses adversários passei a admirar, como parte também desse tempo que não volta mais. Quem acompanha o futebol português desde o início dos anos 90, como eu, sabe do falo e quando se ainda é meio criança, aqueles jogos soavam a autênticas batalhas navais. Como ele, outros menos cintilantes por terem estado nesses clubes menos anos, foram igualmente importantes - Oceano, no Sporting, Rui Costa e João Vieira Pinto, no Benfica, entre outros. Hoje, por incrível que pareça, são mais os estrangeiros a deixar esse legado no imaginário dos adeptos, que os jogadores portugueses. Veja-se os casos de Jardel, Di Maria, Jonas ou de Sebastian Coates .

Jorge Costa durou duas décadas no clube, com apenas um curto período de seis meses em Inglaterra, devido a problemas com o treinador portista da altura, Octávio Machado. Mal ele saiu, Mourinho pediu o seu regresso ao clube e nem esse curto hiato externo beliscou o seu percurso. Ganhou tudo o que de mais importante havia para ganhar num clube, que ainda sabe melhor quando é pelo clube do coração. A que é que saberá um título no Al-Nassr, a Cristiano Ronaldo, um dia que conquiste algum, para além do sabor do vil metal? E a João Félix? E a Benzema, no Al-Hilal? E a todos os que por lá andam, cegos e surdos a uma realidade social depressiva e repressiva de um país que tem a Sharia na sua lei? Que memórias guardarão desse país, dessa cultura, desses adeptos, para além das muralhas dos resorts onde moram e das mordomias que nem os monarcas têm hoje em dia? É melhor mesmo ganhar muito menos e ganhar pelo clube do coração, ser eternizado pelos adeptos e ser recordado como alguém que deu tudo pelo símbolo e tudo o que ele incorpora.

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Jorge Costa veio da Foz, do seio de uma família humilde, e será sepultado lá perto amanhã. É a diferença. Haveria melhor tributo num momento tão trágico? Não. 

Um "bicho" dentro de campo, um "tanque" competitivo, um "poço de raça", um "ranhoso" no bom sentido, como lhe tratavam os adversários dentro das quatro linhas,  um "bichinho" fora dele, para os amigos, e um "gentleman" cá para fora. Um homem com as suas virtudes e defeitos, que nunca procurou impressionar por aquilo que não era. É hora de acabarmos com a ideia de que as pessoas de sucesso não têm defeitos, que não cometem erros nem excessos. Eles são iguais a nós, apenas com mais responsabilidade pela influência que exercem nos demais.

E o FC Porto vai perdendo as suas referências. Em pouco mais de um ano, Pinto da Costa, Pepe, Sérgio Conceição e agora Jorge Costa. E o FC Porto é, dos três grandes, o que mais delas precisa, como deixo abaixo explicado, com citação do jornalista Luís Osório, ilustre benfiquista, que soube descrever na perfeição algumas das facetas do que é ser portista:

"Ser do FC. Porto é um ato de resistência. Vestir aquela camisola é um grito contra as injustiças, contra os poderes que condenam o norte a ser um parente pobre, contra os jornais que oferecem sempre as suas primeiras páginas ao Benfica ou ao Sporting, contra os que não compreendem que a vida custa a ganhar, contra os privilegiados. Irrita-me? Muitas vezes. 

Gostaria que o Benfica pudesse ser assim? Não. Pela simples razão de que a identidade não é um desejo, a identidade de cada clube depende da sua história e do lugar de onde se é. Benfica e o Sporting têm a sua própria identidade.Mas não me digam que o FC. Porto não é extraordinário. Não me digam que não é mais do que um clube.

Ser do FC. Porto é comer a camisola e fazer o que é preciso para ganhar.
Numa guerra faz-se o que for preciso." (in JN, 06-08-2025)
 

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publicado às 00:21

Os políticos como reflexo da pobreza nacional

Todos os anos eles repetem os mesmos lugares para as férias. Não há curiosidade, não há vontade.

por Cláudio Gomes, em 29.07.25

Já estamos em plena silly season e ontem a SIC fez-nos recordar isso outra vez. Apresentou uma peça cujo tema era onde os nossos políticos iriam passar as suas férias. Eles poderiam ter ido ao arquivo dos anos anteriores, que seria a mesma coisa e talvez ninguém desse por isso.

Ora ficámos então a saber que o presidente Marcelo vai passar férias em Monte Gordo, no Algarve, tal como o primeiro-ministro. André Ventura também irá passar por lá, ainda que afirme a jornalista que ele também "irá visitar um país europeu". O novo secretário-geral do PS; José Luís Carneiro, também vai andar pelo Algarve e "mais três dias no Porto". Paulo Raimundo destoa das algarvices e irá passar uns dias no "interior norte".  Rui Tavares fica no "Ribatejo, de onde é natural",  Mariana Mortágua vai para o Alentejo, de onde é originária, tal como o novo deputado do JPP,  o madeirense Filipe Sousa, que para não destoar, irá passar as férias de verão na Madeira. Tempo ainda para uma breve alusão a candidatos presidenciais, Marques Mendes vai para o Algarve, António José Seguro para Porto Covo "onde passa férias há trinta anos".

Nunca viajar esteve tão à disposição de toda e qualquer pessoa. Nunca estiveram à mercê tantos serviços de apoio a quem quer ver mundo, nunca foi tão fácil aceder a conteúdos sobre destinos longínquos que fazem qualquer um salivar e nunca eles foram tão acessíveis mesmo para quem não ganha muito. E hoje em dia há GPS, há guias online gratuitos na internet e até o ChatGPT é capaz de nos fazer um roteiro para três dias ou uma semana, para qualquer destino do mundo. Há plataformas que já fazem a reserva do voo, hotel e roteiro, tudo na mesma reserva e sem a necessidade de nos deslocarmos à agência nem precisarmos de falar com ninguém. Poderia enumerar ainda mais facilidades que existem hoje em dia, que só não são aproveitadas mesmo por quem não pode, ou então por aqueles cujos horizontes e campo visual são mesmo reduzidos, não ultrapassando a cidade ou a região vizinha.

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Ouvir os principais políticos deste país, que ganham o suficiente para irem a qualquer lugar sem terem de contar os trocos, dizerem que  irão passar as férias somente em Portugal, leva-me a pensar, que das duas uma: ou pensam que soa bem aos ouvidos dos seus súbditos dizerem que "Portugal é que é bom, aqui é que se fazem boas férias"  e têm receio de dizerem que vão para fora porque pode soar a snobe ou parecer um crime, ou então os horizontes desta gente não vão mesmo além das fronteiras deste país. Acredito mais nesta segunda hipótese. Falta-lhes mundo e algo muito importante no contexto global em que vivemos, que é a curiosidade, que é também o contacto mais estreito com outras realidades sociais, culturais e tecnológicas, o contacto com outras gentes e modos de viver. Esta peça mostrou exatamente a pobreza mental que paira nos políticos portugueses e eu lamento muito. Fazem-me recordar da pior maneira que este país não mudou significativamente a sua forma de pensar, pelo menos a forma de pensar desta elite reinante, dos tempos de má memória da outra senhora. Para quem não sabe, Salazar apenas saíu do país uma vez, e foi para ir a Espanha assinar um acordo com Franco, em 1957. Nunca andou de avião, nunca chegou a ir sequer às ilhas portuguesas, nem às colónias do Ultra-Mar, de barco. Uma mente rígida, apática, anticosmopolita, desinteressante e indiferente ao mundo. Um legado de pobreza e falta de curiosidade que ainda hoje persiste em grande parte da população portuguesa, incluindo a destes políticos contemporâneos, que deveriam mostrar outra imagem.

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publicado às 14:41

Incentivos e desincentivos

por Cláudio Gomes, em 25.07.25

O governo anunciou no último debate sobre o estado da nação, a atribuição de um novo suplemento extraordinário para os pensionistas, com a particularidade de que, ao contrário dos suplementos pagos em anos anteriores - em outubro e novembro - este ocorrer em setembro. Para os mais incautos, temos eleições autárquicas no início de outubro e a pertinência desta medida reveste-se de um eleitoralismo despudorado que deveria envergonhar o governo ou fazer a oposição questioná-lo se para o ano que vem, na mesma altura e sem eleições, será atribuido novo suplemento extraordinário aos pensionistas.

Portugal não tem cura e não é certamente com estes paliativos que o mesmo sairá deste ciclo de decadência económica, para além de que, pensar nos reformados sem pensar nos que neste momento lutam pelo país, pelas famílias, pelos seus filhos e pelas suas casas, para além de injusto representa a distorção no foco. 

Para muitos reformados que têm outros rendimentos, este complemento sempre servirá para aqueles que tirarem férias em setembro e na melhor das hipóteses irem votar em outubro com mais algum dinheiro disponível. Os governos portugueses sabem que cada vez mais é neste eleitorado que se vencem ou perdem as eleições portanto há que seduzi-los mas mais uma vez, saber isto representa o motivo pelo qual Portugal nunca sairá desta espiral.

Senão vejamos, que incentivo dá um governo ao atribuir um complemento destes a idosos, à semelhança de anos anteriores e ignorar, ao mesmo tempo, os casais da classe baixa e média baixa, que são o grosso dos contribuintes do país, que pagam com os seus descontos, as reformas dos pensionistas de agora? Que incentivo se dá a um casal de quarenta anos e dois filhos, que não consegue arranjar uma casa melhor ou sequer uma casa compatível com as novas necessidades da família? Que incentivo se dá a eles, se viverem na AML e os filhos passarem meio ano letivo sem professores em todas as disciplinas? Que incentivo se dá a eles que descontam e gastam todo o seu dinheiro na economia nacional? Nem sequer os tais duzentos euros que se irá atribuir a grande parte dos pensionistas.

Continuo a defender em 2025 o que já defendia em 2015, para um casal jovem com um filho ou dois só compensa viver neste país se se auferir um rendimento razoável, no mínimo o equivalente a quatro salários mínimos. Se não sabe o valor, é fazer as contas. Tudo o que for abaixo disso, é para estar sempre a fazer contas, sem garantias nenhumas de futuro, tanto para eles, na idade em que têm de pagar tudo, tal como para os filhos. A este casal o melhor mesmo é imigrar com os filhos, como já fizeram mais de um terço dos jovens deste país. E desta forma perdem todos. Perde o país dois contribuintes líquidos, perde o país duas crianças ou jovens, num país em inverno demográfico profundo, e menos dinheiro que circula na economia, menos condições para o alargamento ou melhoria de vários serviços públicos, porque não há capital humano dinâmico, e por aí fora. Ficam os pensionistas, os grandes sorvedouros de fundos públicos, por mais que a franca maioria deles o mereça. E para remendar uma economia disfuncional abrem-se as portas do país a imensa imigração, de matriz essencialmente desqualificada e de "salário mínimo", com subsequentes descontos de salário mínimo. Uma nova população carente de habitação e de serviços públicos para os seus ainda abundantes filhos. Populações essas, que se não forem bem acompanhadas a vários níveis, representam um risco para o país, porque o valor acrescentado do seu contributo para a economia poder ser menor do que os custos que por sua vez poderão estas famílias representar, em termos de habitação, ensino para os filhos, saúde, etc.

É a tempestade perfeita para um futuro bem sombrio.

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publicado às 08:25

O que mais choca no caso Torre Pacheco

por Cláudio Gomes, em 15.07.25

Não é o facto dos agressores serem marroquinos, ou espanhóis de origem magrebina. Também seria igual se fossem espanhóis de gema a cometer tamanhos atos bárbaros sobre um idoso. O que mais choca no caso de Torre Pacheco é a confirmação da falta de valores, da falta de esperança de gerações inteiras que trabalham, algumas já a chegar à reforma e a desilusão que vêem nestes jovens e no futuro de uma sociedade que cria pessoas assim.

Em toda história, de todos os países e culturas, sempre existiram grupos de marginais, grupos de desintegrados, que muitas vezes evoluiram para organizações criminosas com códigos de atuação próprios e para os quais não existiam limites para as suas atrocidades nem tampouco havia neles qualquer objeção em eliminar quem quer que fosse que se atravessasse o seu caminho, mas mesmo nessas organizações existia um elemento que a eles não faltava - o respeito pela familia, pela hierarquia, pelos mais velhos. Veja-se essa nobreza em quase todos os filmes da máfia, na relação com os "padrinhos", veja-se essa humildade nos lutadores de rua para com os seus mestres, de quem receberam valores e instrução. Esse elemento parece ter-se quebrado para sempre e o caso de Torre Pacheco é talvez o mais recente exemplo disso. Alguns destes indivíduos já nasceram em Espanha e estão integrados, mas não é linear que isso seja a regra. A maioria dos estudos sociais foca-se em aspetos económicos por forma a concluir alguma coisa mas estudos sobre integração social e cultural, continuam a ser escasso. Outros indivíduos de origem externa em Espanha são constituidos  por jovens adultos, muitos chegados à Europa recentemente e tratados por "Menas", um acrónimo que significa "Menores estranjeros no acompañados".  Por forma a conntornarem a legislação que distingue os menores dos adultos, boa parte deles eliminam os passaporte e auto-declaram-se como menores de idade, embora fosse facilmente comprovável que não o são, caso houvesse a triagem correta nas entradas do país. Não vivemos tempos desses. A eles o estado espanhol é obrigado a fornecer "alojamento, alimentação, cuidados médicos, educação e outros serviços", segundo vários sites humanitários disponíveis.

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(a imagem possível da barbárie e o desabafo de um espanhol de origem cigana, que contraria a narrativa da maior parte da comunicação social, acerca de quem se está a aproveitar deste caso)

Ora, sabemos perfeitamente que tudo o que é bonito no papel nem sempre o é na realidade e se existem casos de sucesso na integração, existem muitos mais que não o são, porque o problema está a montante e esse não é combatido. Adolescentes e jovens adultos que chegam à Europa sem família, sem orientação, sem apoio individual, porque já não existem recursos para isso, podem cair facilmente na subsidiaridade, na marginalidade e na indulgência de sociedades individualistas, materialistas, cansadas e alienadas da realidade. O caso de Torre Pacheco parece-me claramente ser esse e se é facto que tamanha agressão que despoletou este caso também pudesse ter ocorrido entre espanhóis (e o que não faltam são casos de violência no seio familiar contra idosos, que bem os sabemos), parece-me claro que estes jovens não cometeriam tamanho crime se as vítimas fossem os seus avós marroquinos. É conhecida a forma como os árabes se comportam em família, como respeitam as mães e os avós e como essa educação de base nunca se quebrou naqueles meios. Quebrou-se sim na Europa, quando chegam sozinhos, muitos deles traumatizados por viagens tortuosas e tornam-se vítimas nos seus próprios grupos onde pretendem ascender. Outro factor amplificador da perversidade é a difusão deste conteúdo em redes sociais, que amplifica por sua vez a revolta social e as ondas de choque perante tamanha violência gratuita e falta de empatia para com os idosos, o que só me leva a crer que um dia, mais cedo ou mais tarde, será necessário controlar o que é publicado nas redes sociais a bem da ordem social, pois os mecanismos de bloqueio para este tipo de conteúdo continuam a ser ineficazes ao dia de hoje. Por fim, há que ter cuidado com dois tipos de corja que se alçam em casos destes como predadores sedentos de sangue, a saber:  a bancada dos grupos de marginais da extrema-direita, alguns vindos de fora de Espanha, incapazes de perceberem qualquer contexto, de dialogarem com racionalidade e que não se importariam de agir como esses mesmos criminosos;  e os meios de comunicação social, profissionais que são em distorcer e distrair as atenções para o que neste caso é real e objetivo. Vigilância a estes dois grupos será essencial no futuro.

Continuo a acreditar que este é apenas um caso de criminalidade comum, cuja repercussão se deveu à difusão do vídeo das agressões selváticas ao idoso nas redes socias. Não acredito que seja um caso de xenofobia ou gerantofilia mas este caso deveria servir para pelo menos duas coisas: Rever políticas migratórias, especialmente as de asilo e a regulação dos conteúdos publicados nas redes sociais. Sem isso, este caso será apenas o rastilho para um imenso barril de pólvora que está  prestes a explodir.

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publicado às 23:39


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