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Curtas da semana

por Cláudio Gomes, em 03.11.25

Um zero absoluto para André Ventura, Pedro Costa e André Ramos (CNN)

Receio que nunca mais volte a ser possível discutir política com seriedade, enquanto os intervenientes quiserem nivelar o debate ao nível do solo. Ontem aconteceu mais um episódio desses, com André Ventura a ser entrevistado, chamemos-lhe assim, por André Ramos, pivôt do canal, e por dois comentadores de serviço, Francisco Rodrigues dos Santos e Pedro Costa. A entrevista, ou melhor, o confronto, que nem deveria ter ocorrido, começou muito mal com uma nota introdutória feita pelo pivôt, bastante perniciosa, com acusações várias ao partido e ao seu líder, de viverem de fake news. Conseguiu incluir Salazar, corrupção e ciganos na mesma síntese e isso irritou o convidado desde o início do confronto.

Ventura está cansado e é notório que preferia não ter sido candidato, porque o seu objetivo é ser Primeiro-Ministro. Mas sabe, ao mesmo tempo, que tem culpa própria e sente-se incomodado com perguntas que desembocam nesse paradoxo em que está metido. Ontem, estiveram todos mal. O primeiro foi Ventura, que nem deveria lá ter ido. Foi, ainda conseguiu usar a sua narrativa, mais do que conhecida, mas sem a mesma eficácia de outros dias. Esteve mal o pivôt, que não é muito competente neste tipo de debates, parece sempre um sujeito desprovido de empatia e munido de um tom arrogante quando confrontado. Esteve mal o comentador Pedro Costa, que eu nem conhecia e fui investigar. O currículo do sujeito é ter sido presidente de junta de freguesia e ser filho do antigo Primeiro-Ministro António Costa. A frase final desse comentador foi no mínimo inoportuna e repugnante. “Porque berra tanto?”, mesmo que citando alguém, uma desculpa esfarrapada que só acredita quem quer. O sorriso traiçoeiro que esboça ao mesmo tempo que faz aquela pergunta, demonstrativo da sua linguagem corporal, exibe também o seu carácter e a ética.

O nível de debate está assim, na lama e quem perde é a sociedade civil, com políticos incendiários e populistas e um jornalismo terceiro-mundista, incapaz de manter a coerência e a isenção, nem que fosse por apenas uma hora. Um zero para todos e uma nota mental para mim. Não ouvir mais debates para as inúteis eleições Presidenciais e não voltar a sintonizar a CNN Portugal.

 

Outro zero absoluto para Miguel Prata Roque e Rodrigo Taxa

Dois dias antes este triste espetáculo já tinha acontecido, desta feita na Sic Notícias. Em estúdio, o comentador do PS, Miguel Prata Roque fala sem interrupções durante mais de quatro minutos e pelo meio insulta o partido Chega e o seu líder. Quando a palavra passa para o deputado Rodrigo Taxa, Miguel Prata Roque interrompe-o várias vezes. O deputado irrita-se e diz para Prata Roque se calar, porque não consegue dar a sua opinião nem o interrompeu durante a sua prestação. Prata Roque não gosta e reclama com a moderadora, ameaçando sair do estúdio, o que acaba por fazer. Estas lamentáveis demonstrações, que dantes só assistiamos em debates de futebol, transferiram-se para a política, o que é um indício do clima político que se  vive no país, no nível cada vez mais baixo de deputados e comentadores. Perde o espetador e é melhor mesmo usar a televisão apenas para transmitir para o ecrã o que estamos a ver no telemóvel, seja Netflix ou Youtube. 

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Se dos deputados do Chega não espero ética nem elevação, esperava outra atitude de Prata Roque, que se diz constitucionalista e até já foi membro de um governo. Ele é uma figura que se envolve com muita frequência neste tipo de discussão baixa, sendo constantemente vencido e até motivo de risota nas redes sociais, pela maneira como Miguel Morgado o domina e não só. Recentemente também foi enxuvalhado por Ascenso Simões, do mesmo partido, e mais lá atrás ficou célebre um "raspanete" que Sebastião Bugalho lhe deu em estúdio. Prata Roque é assim uma figura de prateleira do PS, partido que prefere sem dúvida vê-lo nas Tv's do que tê-lo nas suas fileiras, seja na fação de centro ou a fação de esquerda. Penso que naquele partido ninguém pensa nele para rigorosamente nada, já que Prata Roque não tem discurso próprio, nunca se afirmou como uma alternativa a corrente alguma no partido, não tem credibilidade nem autoridade e tem o carisma de um cabide. Veja-se a forma como foi ridicularizado pelos parceiros de comentário, no passado mês de Agosto, mostrando impreparação para o debate político. A atitude que teve na passada quinta-feira é demonstrativa de que só se sente confortável e protegido nos pelouros e corredores da academia, jamais no mundo cá fora, que não é para fofos. Lamentável também a atitude do mesmo nas suas redes sociais no rescaldo desta altercação, ao se sentir ofendido pelo opositor, discorreu uma série de postagens onde usou termos como "porcos" e "dar umas lambadas", em referência implícita a Rodrigo Taxa. Foi pior a emenda que o soneto. Um zero absoluto, numa semana negra para ele.

 

Outro zero absoluto para Cláudio Castro

Que o Brasil tem problemas crónicos de segurança e que o narcotráfico é cada vez mais poderoso e violento, isso todos sabemos. O crime organizado tem de ser combatido com método, precisão e fazer o mínimo de vítimas civis. Tal não aconteceu esta semana e existem imagens chocantes de dezenas de corpos ordenados no chão, como se fossem animais abatidos ou de uma guerra civil em África. Ninguém tem dúvidas de que houve abuso de autoridade e uma violação grave dos direitos civis, mas ouvir um sujeito que é governador do estado do Rio de Janeiro, dizer que "só lamentava a morte de quatro inocentes", referindo-se aos polícias mortos naquele combate, é revelador do desprezo que algumas elites brasileiras continuam a ter face a quem nasceu naqueles lugares e que dificilmente terá condições de ser outra coisa na vida que não pedinte ou criminoso. Será que alguém lhe perguntou o que é que as autoridades estaduais e nacionais têm feito para combater a pobreza e a desigualdade naqueles lugares? E que resposta acham que ele teria para dar?

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Quando deixaremos de ler notícias destas?

E porquê que nunca se vem a saber o que acontece a agressores destes? Não chega à polícia? Não chega nenhuma queixa ao Ministério Público, caso os médicos e enfermeiros tenham medo de denunciar? Porque é que neste país continua a imperar o medo e a lei não atua?

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Será o dedo de Mourinho ou o dedo de outra coisa?

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O campeonato português tem sido até ao momento bem disputado e sem grandes polémicas, mas para quem conhece bem isto, o sistema de castas existente, a pressão dos predadores sobre as presas, sabe que esse estado de graça é sempre sol de pouca dura.

Anteontem fomos brindados com essa forma de futebol. Ainda com 0-0 no marcador, em cima do intervalo, ocorre uma falta grosseira e negligente do jogador Sudakov sobre o jogador Samu. Decisão? Um simples amarelo. E nem o VAR piou. No início da segunda parte há outro lance decisivo, com contornos semelhantes. Já com 0-1 no marcador para os encarnados, o árbitro não foi lesto e expulsou o jogador Blanco, do Vitória, com vermelho direto, deixando assim a equipa vimaranense duplamente penalizada. Sendo que este tipo de lance (uma expulsão) é ainda mais impactante numa partida do que uma grande penalidade, merece uma análise cuidada. Mas, novamente o VAR não existiu. Como dizia um antigo árbitro “O VAR, Rui Costa, uma vez mais, ficou-se nas covas.” A pergunta é sempre a mesma, e é válida ara os outros dois grandes, mesmo que com pequenas nuances - se fosse ao contrário isto acontecia? Se as camisolas estivessem invertidas a decisão era a mesma? É óbvio que não. O futebol português continua a ser isto, infelizmente.

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publicado às 14:11



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